quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Afinal reprovou nos Exames Nacionais? (Artigo de Opinião de Susana Amador no DN, em 1 de Agosto de 2013) A

"Os maus resultados dos exames nacionais, que, aliás, suscitaram críticas das associações de professores das disciplinas de Português e de Matemática, assim como da Confap, segundo a qual os enunciados revelavam problemas estruturais na sua conceção, não são o espelho do mau desempenho dos alunos ou dos professores, são, a meu ver, diretamente imputáveis ao Governo vigente..."

INÍCIO:

Os resultados dos exames nacionais do 9.º e do 12.º ano foram avassaladores. Alunos, professores e pais reagiram desanimados e frustrados perante uma percentagem colossal de resultados negativos. Alunos com notas de mérito, que nunca tiveram resultados negativos no seu percurso escolar tiveram de enfrentar uma humilhação inesperada e injusta. Em nove anos de realização de exames nacionais de 9.º ano, assistimos, este ano, ao pior resultado em Português e ao terceiro pior em Matemática. Ambos com média negativa, respetivamente 47% e 43%. Também os exames de 6.º ano registam uma quebra, quando comparado com 2012.Segundo o Ministério da Educação e Ciência (MEC), parece que a culpa é dos alunos e que terão de estudar mais.Mas a realidade revela que na sua obsessão cega por obter ganhos orçamentais imediatos, o Governo, através do MEC, decidiu-se por um conjunto de medidas que começam a revelar as suas consequências nefastas, nomeadamente, ao extinguir o Plano de Ação para a Matemática, os apoios ao Plano Nacional de Leitura e terminar com a obrigatoriedade do estudo acompanhado e com as aulas de substituição, bem como, ao proceder à extinção de disciplinas e à redução da oferta de cursos de educação e formação para alunos com idade igual ou superior a 15 anos, o que resultou na redução do tempo de trabalho e de permanência dos alunos em ambiente escolar e de aprendizagem.

 

A alteração não fundamentada da matriz curricular, o aumento do número de alunos por turma, a desvalorização do acompanhamento psicológico aos alunos, a extinção da área de projeto e a redução crescente ou eliminação dos apoios sociais, foram outras medidas adotadas empiricamente pelo Governo que, tal como era previsível, estão a deixar um rasto de maus resultados.Os maus resultados dos exames nacionais, que, aliás, suscitaram críticas das associações de professores das disciplinas de Português e de Matemática, assim como da Confap, segundo a qual os enunciados revelavam problemas estruturais na sua conceção, não são o espelho do mau desempenho dos alunos ou dos professores, são, a meu ver, diretamente imputáveis ao Governo vigente que, além das medidas introduzidas, transformou a escola pública num experimentalismo primário e labiríntico, de onde não se vislumbra uma saída ou sequer uma luz ténue que nos faça sair do caos em que nos encontramos.Nestes momentos de desilusão coletiva, impunha-se no mínimo alguma análise introspetiva da parte dos responsáveis políticos. Mas isso seria esperar demais por parte de quem não acredita na construção de uma escola de cidadãos onde a igualdade e a equidade estão algures neste momento em parte incerta. A verdade é que nos últimos dois anos assistimos a uma desconstrução da escola pública e dos seus principais pilares e, tal como o Governo se desmorona todos os dias, também o edifício da escola pública ameaça colapsar. Aliás, só tem resistido porque este edifício está ancorado na determinação e na luta constante de pais, professores, alunos e autarquias, que teimam em não o deixar desabar, porque sabem que a escola do conhecimento e do ser é determinante para o futuro e competitividade de Portugal.

 

O clima de instabilidade da classe docente e a incerteza quanto ao futuro minam a autoestima e abalam a confiança de todo o sistema. Os resultados dos concursos de professores mais recentes, onde, p. ex., dos 45431 candidatos foram admitidos... três, reflete que, definitivamente, o MEC demitiu-se de implementar qualquer política para a educação efetiva e credível em troca da intenção exclusiva de reduzir custos diretos neste sector, ainda que isso implique o desequilíbrio das contas públicas por via da redução das receitas fiscais e, simultaneamente, pelo agravamento das prestações sociais do Estado, além de fomentar o drama social e económico das famílias, da economia nacional e do País.Uma escola despedaçada, envolta num país de onde não se vê o futuro nem a esperança, tamanha a espessura do nevoeiro das políticas em que estamos envoltos, políticas essas que não deram resultados, ou melhor, que nos levaram para uma situação bem pior e profundamente mais grave em termos de desemprego, défice orçamental, dívida pública e nas políticas educativas. Mas, apesar deste espesso nevoeiro, que mais não é na realidade do que o acumular de sucessivas cortinas de fumo, os portugueses sabem e sentem que o navio encalhou no cabo das Tormentas. Mas também sabem que "o mar é plano e o céu é azul, sempre que vou e o mundo é pequeno para quem ficou". Por isso, temos de ir... pela escola da igualdade de oportunidades, a escola que tem o mundo todo no seu seio, porque é tolerante e inclusiva.




JG

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