(ou a sugestão de um caminho…)
O concelho de Odivelas festejou ontem o seu 16º aniversário.
É motivo para forte festa. Parabéns a Odivelas, parabéns aos odivelenses e muito obrigado aos cidadãos com genuína alma de «papagaio»* que lutaram, acreditaram e conseguiram erguer esta terra a concelho.
Ao fim de dezasseis anos haverá, obviamente, balanços a fazer, percursos a necessitar de correção, vias a aprofundar. Não o vou fazer até porque não me sinto, para já, suficientemente informado e habilitado. Outros estarão em muito melhor posição que eu para tal.
De qualquer modo, sou pessoa que gosta mais de olhar para a frente que para trás, de pensar mais no futuro que no passado e como cidadão odivelense é natural que o futuro de Odivelas, como concelho e cidade, me desperte mais interrogações sobre o caminho a fazer do que o caminho que já foi feito.
Porém, antes de se iniciar o caminho é bom que se saiba aonde se quer chegar. Neste campo não sou muito adepto do "caminho faz-se caminhando". Em Odivelas, julgo que essa questão ficou por responder. Penso até, aliás, que nunca chegou a ser seriamente formulada.
Falo, no fundo, de uma estratégia global, de longo prazo, com um fio condutor que não descortino atualmente. Isto teve um preço e este é - custa-me reconhecê-lo - o facto de Odivelas não estar em "muitos mapas". Por exemplo, Odivelas, apesar de ser contígua a Lisboa, logo a seguir à Calçada de Carriche, é para muitos lisboetas, uma terra longínqua, que não se sabe muito bem onde fica, com qualidade de vida duvidosa, um local aonde se deve evitar ir. Nada mais errado, é certo, mas só pode responder assim que conhece Odivelas.
Não temos muitos ícones (pessoas, monumentos) fortes que suportem a divulgação da terra odivelense a nível nacional. D. Diniz, Um dos melhores reis da História de Portugal (para muitos, mesmo o melhor) está sepultado em Odivelas. Quantos portugueses o sabem? Poucos, muito poucos. Alguma coisa tem sido feita para ligar mais Odivelas a este monarca mas não chega.
A marmelada de Odivelas pode também ser um ícone mas não tem a força suficiente. E, reconheçamos, ser reconhecida como a «terra da marmelada» não é um cartão de visita particularmente sonante. Ainda assim - felizmente - algo se tem concretizado neste campo e é bom que continue a ser feito.
Podemos falar de outros eventuais ícones mas falta sempre algo - algo inovador, algo que rompa com a atual imagem de Odivelas, algo que a nível nacional se associe de imediato ao nosso concelho, da qual a nossa terra seja o ícone, um exemplo a ser seguido. Algo que traga prestígio, investimento, emprego e qualidade de vida.
Esta é uma discussão que merece ter lugar. Se alguém a quiser continuar eu lanço daqui, deste muito raso pedestal de uma singela coluna de opinião que acabei de iniciar, uma ideia - a de fazer de Odivelas um exemplo de sustentabilidade ambiental fazendo com que a este tema seja associado, de imediato, o nome de Odivelas. Pensemos em casos como o da Maia ou de Rio Maior, que estão fortemente conotados com o desporto, ou o caso de Curitiba (a oitava cidade brasileira em termos populacionais, com quase dois milhões de habitantes), que ficou mundialmente famosa devido às inovadoras soluções ecológicas adotadas para os transportes públicos.
Para além das vantagens óbvias em termos de qualidade de vida dos odivelenses, tal desiderato teria outros benefícios. O primeiro era claramente dar um caminho, um critério para tomadas de decisão. Em segundo lugar, faria com que alguns das situações ambientais complicadas de Odivelas passassem a fazer parte de uma solução estratégica. Ou seja, virar-se-ia o jogo, transformando aquilo que são problemas locais em trunfos para um caminho de desenvolvimento porque a questão ambiental é transversal. Em terceiro lugar, faria de Odivelas uma referência nacional, um concelho a merecer visita, desvanecendo algumas imagens injustamente negativas sobre a nossa cidade. Temos bons pontos de partida - as nossas linhas de água, a fama da água das fontes de Caneças, problemas de ordenamento do território que podem ser resolvidos ou atenuados com soluções criativas. O desafio é enorme - provar que um espaço marcadamente urbano e com problemas de crescimento desordenado como Odivelas, com todos os problemas inerentes a esta condição, pode ser um espaço ecologicamente amigo e sustentável em termos económicos, sociais e ambientais - mas eu acredito que o podemos vencer. Assim haja vontade e mobilização.
É apenas uma ideia, uma sugestão. Deverá haver outras melhores mas foi neste que pensei e acredito que seria um caminho viável. Aliás, qualquer caminho é viável desde que se saiba qual é o destino. E nesta discussão, todos os caminhos vão dar ao mesmo sítio: o sítio onde vivemos e onde queremos ser felizes - Odivelas.
* Designação que popularmente se atribui aos nascidos em Odivelas.
Fernando Sousa Silva
Errata: onde se lê "mas só pode responder assim que" deve ler-se " mas só sabe quem".
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