Como cidadão odivelense que se considera atento, preocupa-me a questão do Instituto de Odivelas (IO).
A decisão governamental de o extinguir merece a minha total discordância por todas as razões que muitos antes de mim já enumeraram e que me vou escusar de repetir aqui.
Há, todavia, alguns pontos que gostaria de salientar.
Logo à partida, quero lamentar que durante muito tempo o próprio Instituto se tenha fechado a Odivelas, se tenha isolado da comunidade onde geograficamente se insere, a tal ponto que, a determinada altura, muitos odivelenses ou nem sabiam da sua existência ou encaravam o IO como um corpo estranho na nossa cidade, algo que não fazendo bem, nem mal, simplesmente estava ali, quieto, inócuo e deixado em paz e sossego.
Mais lamentável isto se tornava quando os elementos mais simbólicos e emblemáticos do algo exíguo património histórico e cultural do concelho se encontravam dentro das paredes do Instituto, inacessíveis a muitos odivelenses. Relembro que é em Odivelas, no mosteiro onde está instalado o Instituto de Odivelas que está sepultado aquele que é, inequivocamente, um dos melhores monarcas da História de Portugal, el-Rei D. Dinis.
Aliás, aposto que a larga maioria dos odivelenses desconhece o brasão do seu concelho e, por maioria de razão, porque lá figura um urso (?!?) e qual a ligação deste com D. Dinis.
Infelizmente - e apesar da luta não estar finda - tudo parece encaminhar-se para o encerramento. Muitos das pessoas e entidades ligadas a este e que até há pouco ignoravam fleumaticamente os odivelenses, viram-se, de repente, na necessidade de buscar o apoio destes na sua luta contra a extinção do IO.
Felizmente, este apoio não tem sido regateado. Odivelas e os odivelenses têm-se manifestado com veemência e convicção contra o previsto encerramento do IO apesar da indiferença com que ao longo dos anos este tem tratado os odivelenses (relembro que há alguns anos atrás nem sequer eram permitidas visitas ao interior do Mosteiro). Odivelas terá tudo a ganhar se o IO não for extinto e se este não se voltar a fechar sobre si próprio.
Mas - pergunta que terá que ser feita, infelizmente - o que acontecerá ao Mosteiro, às instalações, se o IO for mesmo extinto? Que se fará daquele complexo?
Já ouvi uns zunzuns na comunicação social nacional de que se dará preferência a uma utilização ligada ao ensino. É uma solução que, apesar de muito abstrata, me parece apontar num bom caminho.
Nesse sentido, aqui vai a minha humilde sugestão - se o IO for extinto (algo eu não desejo) porque não transformar o mosteiro num centro de interpretação da vida medieval mostrando aos visitantes os diversos modos de vida que existiam em Portugal durante a idade Média, nas cidades, nos campos, nos mosteiros e conventos, como viviam e trabalhavam plebeus, clérigos e nobres, como guerreavam, como comerciavam, como se vestiam, como comiam, como dormiam, como se divertiam.
Penso que um projeto destes transformaria o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo num local que atrairia um grande número de visitantes tanto a nível particular, como institucional (como escolas, por exemplo). Traria investimento e atividade comercial. Podemos até ir mais longe e alargar o projeto à zona histórica envolvente ao Mosteiro pois potencial para isso não lhe falta.
Acho que seria uma ideia que ajudaria Odivelas a ser conhecida por algo mais do que um subúrbio de Lisboa. Na sequência de algo já por mim aqui escrito antes, este é um projeto que ajudaria a pôr Odivelas no mapa.
Fernando Sousa Silva
Sociólogo
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