Na sequência da minha crónica da semana passada - na qual foquei especificamente a questão da violência doméstica - surgiu-me uma outra questão, que julgo igualmente pertinente: qual a situação global da criminalidade em Odivelas?
Como fonte, recorri, de novo às Estatísticas da Justiça (http://www.siej.dgpj.mj.pt/) e propus-me fazer um exercício simples: pegar nos números e torna-los visualizáveis.
Vendo o gráfico abaixo, o resultado foi agradável. O total de crimes registados no nosso concelho, depois de uma subida até aos máximos de 2008 e 2009, registou, desde então e até 2013, uma franca e contínua descida para valores claramente inferiores (em cerca de 11%) aos de 2005.
Numa análise mais fina, decompondo a criminalidade em categorias conforme a Tabela de Crimes Registados aprovada pelo Conselho Superior de Estatística (Deliberação n.º 2291/2011), verifica-se que a maior fatia - sempre com mais de 50%, nos anos analisados - está na criminalidade contra o património (furtos, roubos, burlas, entre outros).
A categoria que a seguir regista mais ocorrências é a da criminalidade contra as pessoas (crimes contra a vida, a integridade física - incluindo violência doméstica -, a liberdade pessoal, a autodeterminação sexual, a honra, a reserva da vida privada, entre outros), com percentagens que, ao longo dos anos em análise, variam entre os 20 a 25% da criminalidade total.
A restante criminalidade (contra a vida em sociedade, contra o Estado e criminalidade tipificada em legislação avulsa) nunca representam mais de um quarto do total dos crimes registados.
Consta que Mark Twain disse, há uns anos, que "há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas" (esqueceu-se de mencionar as de alguns políticos…) mas pegando neste números podemos afirmar que - e apesar de alguns problemas localizados - Odivelas é, afinal, uma terra onde se vive com crescente segurança, o que, para o cidadão comum, não deixam de ser ótimas notícias.
É, também e sem dúvida, uma "pedrada" que desfaz uma falsa e preconceituosa imagem de insegurança e de acentuada criminalidade que, erradamente, muitos têm de Odivelas, particularmente aqueles que não a conhecem. Para dar um exemplo, eu, até hoje, só fui assaltado duas vezes… ambas em pleno centro de Lisboa!
Para terminar, não posso deixar, todavia, de mencionar um último «pequeno-grande» facto. Em Odivelas, na criminalidade contras as pessoas, o peso percentual da violência doméstica nesta categoria tem vindo a subir continuamente desde 2008 (com 38,1%) até 2013, onde atingiu um máximo de 48,5%. Ou seja, em 2013, quase metade da criminalidade contra as pessoas registada em Odivelas foram crimes de violência doméstica!!! Dito de forma ainda mais simples - em metade dos casos, o agressor (con)vive na casa das próprias vítimas. Pensem nisto…
Fernando Sousa Silva
Sociólogo
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