Sistema Político também pode Mudar, de uma maneira ou de outra…
Durante muitos anos o sucesso político / as vitórias eleitorais relacionaram-se directamente com o rol de cortes-de-fita.
Daí, à edificação de equipamentos públicos da mais diversa ordem, à criação de bairros sociais, à construção de vias, ao licenciamento urbanístico, à organização de faustosos eventos festivos, mais ou menos culturais, mais ou menos desportivos, foi um salto:
ü Construíram-se escolas e outros equipamentos sem assegurar que houvesse população que dela precisasse, mesmo quando as características sociais da população portuguesa estavam a mudar.
ü Construíram-se equipamentos sem identificar o objectivo e as necessidades que se iriam cumprir.
ü Construíram-se bairros sociais, constituindo autênticos guetos sociais, potenciadores da exclusão e incapazes de promover a qualidade de vida, a estabilidade e segurança social, mas acima de tudo assumindo-se como a face material de degradação da condição humana, onde o propósito da inclusão social raramente foi atingido.
ü Construíram-se vias sem nexo e sem justificação, amiúde potenciadoras da fixação de novos agregados populacionais e portanto acentuadoras das assimetrias regionais por força da deslocação de populações que se agregaram em torno dos novos eixos, sempre no litoral.
ü Licenciou-se a urbe promovendo a ocupação assimétrica do território, sem respeito pelas necessidades humanas e completamente alheadas dos equilíbrios ambientais a assegurar.
ü Eventos, festas, festividades, festarolas, foguetes, concertos e animação quanto baste, sem que se provassem quais os contributos que tais eventos trariam à cultura, ao desporto, à economia e ao bem-estar local.
Resumindo, assistiu-se ao primado dos resultados eleitorais em detrimento do primado do planeamento. E as pessoas e suas necessidades ficaram esquecidas.
Simultaneamente, nesta senda pelo poder, os recursos disponíveis foram avidamente consumidos pelas obras inconsequentes, porque não planeadas quanto aos seus objectivos e porque nãos planeadas quanto aos recursos iniciais e futuros.
E tudo isto se tem passado em todas as esferas de poder.
Chegados ao ponto em que os recursos começaram a escassear inventaram-se as tão malfadadas PPP’s (Parcerias Público-Privadas), onde as Administrações Públicas (Central, Regional e Local) tudo arriscam e os privados tudo lucram. Hipotecou-se o país para os próximos 20 a 30 anos (nos melhores casos). Permitindo lucros especulativos e no mínimo imorais, apenas para os privados e para banca.
Como se não bastasse, houve que levar tudo ao limite.
Em 2011, Portugal formulou um pedido de assistência financeira. Pediu dinheiro com aval e então entraram nas nossas vidas, o dito Acordo de Entendimento e suas Revisões, a Troika e a Austeridade.
O Povo aceitou e os Governantes entenderam isso como permissão para mais.
A verdade é que quase 9 séculos de história, permitem mesmo aos mais incautos reconhecer que não é assim que alcançaremos a recuperação, ao invés acentuamos a nossa subjugação. Os portugueses têm uma história demasiado rica para não serem capazes de ajuizar sobre a injustiça e as perigosas vias que o poder por vezes escolhe.
Ninguém, de bom senso, aceita que aqueles a quem confiamos a gestão da coisa pública nos tenham trazido à condição de pedintes.
Quando os poderes instituídos cristalizam, são anacrónicos e/ou disfuncionais na acção e tendem a ser substituídos. Atente-se que tudo muda!
10/Dezembro/2014
Paulo Bernardo e Sousa
Politólogo
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